e em outra dessas conversas que a gente acha que vai levar a algum lugar, que não seja a cama, a gente conversa mais uma vez. Todas as vezes são diferentes, mas a de ontem foi mais.
Antes de sair de casa a gente sabia do encontro. Tá.
Pensei eu; levo um guarda-costas, uma faca ou uma camisinha. Precisaria estar preparada.
Engraçado.
A hora nem demorou tanto para passar ou então sei-lá, era hora. Ele ligou.
- Tô aqui.
-Estou indo.
- Tá, beijo.
Simples, a gente não é de rodeios.É.
Nem chegado tinha, outra vez ligou.
- ah não vai vir então?!
- tô chegando, espera.
-Tá.
Mais simples.
Parei ao lado do carro, ele dentro, de portas fechadas, um vento sul que me descabelou em apenas 05 minutos, até que ele resolvia sair ou sei-la que diabos fazia lá dentro, eu tentava arrumar meus cabelos, normal.
Ele saiu, a gente só se olhou.
Silêncio. Silêncio. Silêncio.
Ele me deu um beijo no rosto e um abraço, igual aos de sempre.
Silêncio. Silencio.
-E aí?
-E aí?Por um momento pareciamos estranhos. E veio a primeira pergunta, claro.
- Porque vc está assim?
- Assim como? (sou ótima em me fazer de vítima, acredite)
-Assim; brava, reinenta, bicuda, teimosa ... (e por alí foi inumeros adjetivos)
- Nem tô nada.--'
- Só porque eu sou GROSSO e ESTUPIDO?
AUIEHEUIAHEAUHEIUEAHUEIAHEIUAHEAIUEHAIUEHA
acredite, essa foi a melhor maneira de quebrar o gelo, sério. Acertou em cheio.
Fiz ele repetir várias vezes, o que você é?
o que? o que? o que? o que?
Sinceramente, até então não havia nenhuma novidade, mas só pelo fato de você se auto definir assim, eu achei o máximo.
A conversa começou a fluir, e o silêncio não apareceu mais.
O que apareceu então foi as cobranças, as brincadeiras com toda a verdade do mundo, as dores de cotovelo e as verdades na cara dura e crua, sem receio, sem medo, sem se importar se o outro ia ou não gostar.
O que ele mais repetiu?
- eu odeio essa ironia.
- para de ser ironica fran.
- não sorria assim ironicamente.
- para, acredita em mim, tô falando sério.
O que eu mais repeti?
- páara, já sei disso.
- e disso também.
- afffs
- e onde doeu?
Depois de tanto se jogar tudo na cara, de tanto rir do ciúme alheio, pq realmente era engraçado, o vento veio mais forte, e de leve os pingos da chuva começaram cair sobre nós. Estamos alí a mais de uma hora "lavando roupa suja" como ele mesmo definiu, a chuva engrossou e ele disse:
- quer entrar?
- nem respondi, entrei.
- e antes que você reclame, sim tem cheiro de cerveja aqui.
- foco.
Citei alguns adjetivos de baixo calão, vagabundo, cachorro. imprestavel, sem carater e por aí foi, me esforcei ao máximo para lembrar-me de todos que já tinha ouvido algum dia.
- isso tudo é pq tu gosta de mim?
- não exatamente.
Então foi a vez dele achar todos os adjetivos de baixo calão do dicionário dele.
- Tonga, besta, ciumenta, doída, maluca, mandona e por ai foi.
- isso tudo é pq tu gosta de mim? (2)
- não exatamente.
enfim, enfim, enfim, enfim, enfim, enfim.
Para acalmar os animos, uma música.
E já eram quase dez horas, e já fazia tempo de mais que estavamos alí dentro, e lá fora não tinha mais chuva.
Falei que tinha que ir, era necessário antes que algo fosse acontecer.
- Vou levar o cd.
- Não vai não.
- Vou sim., nãoe stou pedindo, estou avisando.
Tirei ele, segurei-o na mão esquerda com força, como se fosse precioso.
Então as proximidades começaram.
Sintonizar uma nova estação de rádio era preciso, mas sobre minhas pernas parecia o caminho mais atraente.
Eu?imovel.
O coração começou a bater mais rápido, e as malditas proximidades foram ficando cada vez mais próximas.
Mensagem ao celular.
- Acabou a minha aula.
A aula da pessoa e a minha noite acabaram alí.
Abri a porta disse: vou indo, é bem melhor.
E bati ela levemente, tão de leve que pode que nunca mais abrirá.
Só.
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